Ética e política
Desde a Antiguidade a filosofia tem se preocupado com a questão da moral e da ética. Distintas, porém intrinsecamente ligadas, a moral é composta por todos os códigos e regras de conduta dos indivíduos na sociedade, sejam eles escritos nas leis ou não, enquanto a ética seria mais pessoal, ou seja, a forma como os indivíduos se colocam frente a moral estabelecida. É um ético o individuo que se constrói, a si mesmo, como um sujeito da moral. Como tal, portanto, a ética está ligada à postura pessoal e às formas de sujeição do indivíduo às regras de conduta de uma sociedade. Assim, portanto, todos os indivíduos são éticos mesmo aqueles que se comportam de forma imoral, pois isso significa que se permitem atitudes imorais.
A forma como, na história, os homens se construíram como sujeito da moral, gerou sociedades e comportamentos diferenciados que impregnaram as formas de viver. Geraram, no extremo, sociedades como a brasileira, onde por muitos motivos a ética parece ser um dos temas do momento transformado, até mesmo, em disciplina da grade curricular dos cursos universitários, onde se busca orientar estudantes sobre a ética profissional tal é a quantidade de sujeitos que se comportam de forma imoral, particularmente aqueles que acessam o poder de Estado.
Considerando que a ética é individual não há como dividi-la em partes. A ética pressupõe a forma como o indivíduo se constrói e isso caracteriza todas as ações desse mesmo indivíduo, sejam elas afetivas, de amizade, na política ou no trabalho e aparecem quando os indivíduos se relacionam. Assim a ética, como postura pessoal, não é algo que se aprende nos livros ou seminários, porque ela vai sendo construída desde a infância até a maturidade, e depende da forma de subjetivação do indivíduo e está ligada a uma arte de viver e como as pessoas escolhem viver a sua vida e seus relacionamentos.
Para que tal construção se realize há que se desenvolver a capacidade de reflexão das pessoas, fundamental na construção de sujeitos livre e aptos para uma cidadania defensora das liberdades, tanto individuais como sociais.
Porém, esse cuidado de si, embora pessoal e intransferível não se constitui em um exercício solitário, mas sim em uma prática social saudável. Quanto maior clareza os indivíduos tiverem da sociedade em que querem viver e do que é necessário fazer individualmente para que tal modelo se concretize, melhor será o resultado para a comunidade.
Talvez mais do discutir ética, seria muito proveitoso para a sociedade criar mecanismos de participação ativa e cuidar para que os indivíduos, todos eles independentemente da profissão ou cargos que ocupem, no Estado ou fora dele, cumpram os códigos estabelecidos porque assim desejam e não porque existe a possibilidade de punição legal. Um sujeito que ultrapassa as regras de conduta estabelecidas de forma a trazer prejuízo para o próximo ou para a sociedade é imoral e não antiético e impede que muitos usufruam uma sociedade mais livre.
NEGÓCIOS E VIDA COMUNITÁRIA
O sucesso da Feicana, inclusive com a presença de autoridades políticas e de empresários do setor, fez com que a mídia exaltasse o evento. O que se viu foi, inclusive, a publicação de cadernos e revistas especialmente editados para a ocasião que, em detalhes, forneceram informações sobre os negócios da plantação e industrialização da cana-de-açúcar e a importância da energia renovável.
Os discursos oficiais foram elogiosos como a afirmação do chefe do executivo araçatubense de que a “região caminha para ser a maior produtora de cana-de-açúcar do Brasil e, quiçá, do mundo”.
Porém, se a transformação econômica da região pode trazer benefícios é necessário que a população seja informada sobre o que significa tornar-se o maior pólo produtor canavieiro do país e que tipos de conseqüências advêm desse modelo de desenvolvimento econômico.
A experiência histórica brasileira indica que a plantação da cana-de-açúcar em larga escala, e de forma monocultora, determina um tipo de sociedade com problemas específicos e de difícil tratamento.
Uma região rica e enorme como o Nordeste, transformada em um imenso canavial desde os séculos 16 e 17, mesmo depois de 300 anos ainda sofre as conseqüências dessa atividade. Maior produtora mundial de cana-de-açúcar no passado, exportada e consumida em muitos países europeus, conserva ainda os traços da miséria, da exploração humana, da baixa expectativa de vida e escolarização sem contar com o esgotamento do solo e problemas ambientais daí decorrentes.
Fora os efeitos locais, e depois de superada a escravidão africana, a região nordestina acabou ainda por expulsar a população por meio de uma migração intensa a ponto de abalar a urbanização do sul e sudeste no século 20.
Atualmente, os baixos salários no setor ainda força o trabalho de famílias inteiras, inclusive crianças e também afasta da escola uma imensa quantidade de pessoas.
Como conseqüência, essa sociedade miserável e analfabeta é facilmente submetida pelos desmandos políticos de seus dirigentes com conseqüências nefastas para a democracia brasileira como um todo.
Para que não se repita a experiência nordestina, ainda que se afirme que a atividade está atualizada pelas modernas tecnologias, é importante que também se discuta os meios para evitar problemas certeiros e futuros.
Assim, é fato que a monocultura canavieira pode ser benéfica para a região, conforme as informações fornecidas pelo presidente da Udop, mas também podem ser prejudiciais se a população não exigir do poder público que se preocupe com a preservação do meio ambiente obrigando a manutenção de áreas arborizadas e se preocupe, sobretudo, com a dignidade do trabalhador com a oferta de condições dignas de moradia, escola e saúde.
Somente desta forma, se evitará que, no futuro, além dos eventos não previstos na Feicana como o protesto dos pequenos e médios agricultores que queimaram produtos para chamar a atenção sobre o problema da produção e comercialização de alimentos, os organizadores e autoridades não tenham que enfrentar protestos gerados por outros problemas que poderiam se previstos, ser evitados.
''o texto foi escrito por Angela Liberatti ''
FORMAÇÃO
Angela Liberatti professora de Ciência Política no UniToledo e coordenadora do curso de História (Centro Universitário Toledo), de Araçatuba.
*bacharelado em história PUC-SP
*licenciatura em História PUC-SP
*pedagogia Mestrado em história economica PUC-SP
*Pos-graduação em Museologia (MASP e Escola de Sociologia e POlítica de São Paulo)
*Mestrado em Ciência POlítica PUC-SP
Concordo quase plenamente, qualquer tipo de cultura causa esgotamento do solo porisso deve haver uma manutenção do mesmo o que já ocorre. O maior problema é a questão ambiental, pois as leis existem mais as autoridades fingem nao ver o que está acontecendo. As margens do rio Tietê era pra ser preservado ao menos 500 metros de APP (área de preservação permanente) o que impediria de ocorrer escoamento de vinhaça e deslizamento de morros que causam um impacto no rio chamado "eutrofização", ocorrendo perca da biodiversidade. A questão social é um outro problema sendo que há qualificação de mao de obra más não há um reconhecimento dos empresários o que causa revolta aos trabalhadores desse setor.
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